sábado, 3 de setembro de 2011

Entre a Fé e o Cachê

Embora haja ministros mais experientes, eu tenho umas décadas de ministério o suficiente saber o que é sair de viagens fazendo backing vocal pra um ministério sério e depois de duas ou três semanas voltar com um montante insuficiente para manter a família.
Existem duas coisas a pensar: A igreja não está disposta a abençoar seus próprios músicos e ministros, mas se descabela para trazer um nome conhecido de outro estado ou cidade, para abrilhantar a programação; ainda que seja verdade que muita gente comprometida com Deus viria por bem menos (até de graça), mas não traria uma multidão como alguns nomes.
No entanto a armadilha é que para as pessoas serem arrebanhadas, geralmente tem que se abrir mão do critério de santidade ou ainda da própria identidade local da igreja, mas tudo em prol de um evento especial.
Cansei de realizar boas programações com gente séria e de Deus, fazendo sacrifício para honrar o ministério e a vidas destes ministros, mas pouca gente apareceu; sabe por quê? Por que apesar de todo crente saber que o que importa é se Deus está “usando o vaso”, marketing e aparência dizem tudo neste século XXI. As pessoas não estão interessadas em ir "para o lugar que Cristo tem nos preparado", estão interessadas em "comer o melhor desta terra".

Isso acontece no comportamento da igreja de hoje por que o crente não vai mais a igreja para se aproximar de Deus, e sim para alcançar o que Deus pode oferecer. É aquela coisa de "Não basta ver a tua face, me importa o que tuas mãos tem para me abençoar" – A Lei de Gerson.
Houve um tempo em que por mais de 10 anos, na minha juventude, nós da banda MERC (LP "Valores" em 1989), rateávamos os custo de transportes para que a cada sábado, estivéssemos cantando em alguma igreja, e quando tinha um lanchinho, a gente já se sentia honrado; quando vendíamos um LP então, era uma grande benção.
Desde aquele tempo, maus pastores arrecadavam ofertas que não repassavam para os ministros convidados, cobravam ingressos acima do valor estipulado ou repassavam um percentual menor do que o combinado, aí então, não tem músico que tenha sangue de barata né? Já fui ministrar em igrejas que me prometeram muito e não cumpriram nada e depois fica aquela situação de cobrar o pastor ou de perdoar o irmão... Tem lugar que nem muito obrigado. Se me convidaram a mim, com tanta gente "boa" no país, é por que reconhecem o que Deus tem na minha vida ou vêem em mim um "palerma" abençoado que vai sair barato.
Eu no meu caso soube esperar o tempo de Deus para minha vida, mas eu sou um servo discipulado e ensinado desde a infância; minhas decisões são expressões de um caráter forjado por autênticos servos de Deus, sob os quais me coloquei desde a minha meninice. Mas, e aqueles que são tiveram a mesma escola que eu? São abençoados, mas não têm os mesmos critérios, nem desenvolveram a mesma fé. Destarte eu creio que aí vão existir alguns que em contrapartida a essa falta de chão, vão para o exagero de estipular preço em sua unção, para não correrem mais o risco que deixar desguarnecidas suas expectativas de sustento ministerial.
Hoje em dia acabei por adotar um posicionamento de equilíbrio e eticamente correto: Não imponho preço (aliás nunca o impus), mas deixo claro as necessidades de transporte, alimentação, hospedagem, além de minha natureza como terra fértil que espera uma semente de amor que me seja por provisão ministerial. Tenho sido surpreendido por Deus neste meu posicionamento, que, aliás, gente "grande" que eu tenho por referência, também adota.
Outra coisa é o trabalho profissional como músico que é muito controverso.
Tanto compositores como músicos de estúdio abrem mão dos seus direitos por falta de esclarecimento ou simplesmente por relaxo e procrastinação, o que os mantém em certo ou até profundo ostracismo.
No caso dos compositores, no meio evangélico existe uma falta de critério que vai desde confundir amizade com profissionalismo até a sonegação arbitrária de direitos e participações. Caso não se saiba, a menos que a lei mudou e eu estou desatualizado; de cada CD ou DVD vendido, é devido ao(s) autor(es) "pelas autorizações das obras, por convenção e não por Lei, atualmente 9,17% sobre vendas, provadas por Nota Fiscal de saída" [citação de Jorge Melo]. É claro que este percentual é o montante que deve ser dividido pelo número de faixas impressas e distribuído proporcionalmente pelos respectivos autores das faixas; isto se chama resgate dos "Direitos Autorais".
Se meu amigo quer construir uma casa e deseja usar meu terreno, precisa falar comigo e então vamos lavrar um contrato, de arrendamento ou aluguel, por que apesar de a construção ser de meu amigo, o terreno é de minha propriedade. Mesmo assim é cada música que se compõe: Uma propriedade intelectual.
A lei brasileira dá respaldo para o compositor, mas a verdade é que a maioria dos compositores brasileiros acaba por abrir mão de seus direitos por desconhecimento ou por não buscar orientação de como proceder na cessão de um fonograma.
Outra coisa são as rádios, que cobram um "jabaculeco" opressor para tocar a música de um ministro abençoado, emergente ou ainda desconhecido, e às vezes dão bônus de execução para outro ministério de grande renome que até poderia pagar, mas sabe que o play list dessa rádio será mais enriquecido com a presença de sua música. Resultado: Já é errado cobrar dessa forma, mas quem pode pagar não precisa e quem não pode se não pagar não toca.
No entanto se ainda assim, essa rádio recolhesse a taxa de execução devida ao ECAD - Órgão incumbido da gestão sobre as taxas devidas pelas rádios, televisões e canais tele-auditivos, bem como também as organizadoras e promotorias de eventos fechados ou abertos, quando executam qualquer fonograma em mídia impressa, regravada ou ao vivo (mesmo quando pelo próprio artista autor), isso faria com que o "Direitos Conexos" chegassem a quem lhe é devido. Como assim?
Quando você participa de um CD seja em qualquer função ou papel musical e seu nome figura de alguma forma, na ficha técnica, você deve procurar na sua cidade uma representação da ABRAMUS, SOCICAM ou a AMAR (existem outras também), e se filiar para que teus direitos autorais e conexos sejam redirecionados para você. Assim, toda vez que uma rádio paga a taxa de execução da música em que você teve qualquer participação, essa taxa que o ECAD recolhe é repassada para a representação habilitada na qual você se filiou, e assim dividida por todos que participaram dessa música, a tua parte chega até tua conta.
Por fim, quem fazer a lição de casa, de grão em grão, a galinha de fato enche papo. A coisa parece pouca, mas é por isso que algumas produtoras estão engordando o faturamento por que seus contratados não estipulam por contrato seus Direitos Artísticos, os compositores não reclamam Direitos Autorais, nem os músicos vão atrás de suas Regularizações e Representações.
Resta o que? Cobra-se um advance (tipo um adiantamento de segurança por estimativa de direitos futuros) quando alguém se dispõe a pagar ao compositor, ou um cachê de quantia média estipulada para se manter a proposta do ministério pelos eventos. Um ministro que se organiza na sua atividade (digo principalmente neste ramo musical, embora o mesmo princípio se aplique em outras áreas), este ministro será munido dos recursos pertinentes pelos quais será mais resolvido financeiramente; e enfim, quando solicitado pela igreja local, será menos exigente, por causa do contentamento que já desfruta na sua experiência pessoal.  
Mas a realidade que não posso evitar expor é que alguns ministérios, mesmo inconscientemente, passam a ser motivados pelo próprio poder de extração de valores por agenda e a motivação do reino de Cristo se torna secundária; são aptos para abençoar, mas expõem a própria unção à controvérsias, por causa do dinheiro. Contudo há muitos daqueles que abrem mão das quantias exorbitantes para que mediante a fé do suficiente, possam levar uma proposta abençoadora para a igreja local segundo o Espírito Santo norteou seus ministérios... Esses, genérica e infelizmente são secundarizados pela mesma igreja local que se diz explorada por uma classe de “artistas” do meio gospel.
Faltam fé e coerência bíblica por parte de alguns; falta conversão por parte de outros; falta dízimo, ofertas e renúncia por parte de uma classe de crentes que exigem fidelidade dos outros, mas que não são fieis em suas igrejas (a igreja são seus membros – membros sem generosidade consequentemente formam uma igreja que não é generosa); falta submissão à palavra de Deus e sujeição em relação aos seus pastores; faltam visão e direcionamento de Deus em alguns ministérios. Bem, falta pouco, mas para alguns ainda falta muito.
Muita coisa envolvida e pouca coisa resolvida; mas ainda acredito que você e eu possamos fazer a grande diferença no meio desta geração.

Diante do Cordeiro

E.H.S. Kyniar
Pastor da Primeira Igreja Batista em Fernandópolis
Arsenal – Ministério da Guerra
Aliança de Ministros 7001

2 comentários:

PRISCILA ANGEL disse...

O que sempre digo..."Cobram estes valores astronômicos,pque tem quem paga." A mentalidade de todos precisa ser renovada, não acha?!!
Pazaeh!!rs

E.H.S. Kyniar disse...

Com certeza Priscila... Essa deve continuar sendo a nossa oração. Pazaeh ministra.