quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Legados Vivos Lendas Mortas

Num desses passeios de curiosidade pela web me deparei com uma temática que gostaria, aliás, eu já deveria ter pensado antes; mas a verdade é que precisei ser despertado por Kenny Conley, um pastor da Gateway Church em Austin no Texas. Alguém de certo ministério infantil de nome Celeiro, comentava de Conley e sua felicíssima idéia de explorar uma dissertação sobre ser lenda e/ou deixar legado. Amo quando uma idéia me toma a mente e se desenvolve em meu raciocínio como aquelas meninas que de tão amigas já se entendem só pela menor menção do sinal; compreendi Kenny Conley sem nem mesmo ler o que escreveu.
Lembro-me de uma frase que foi dita na Igreja Batista Novas de Paz, na ocasião de minha infância, quando o conjunto musical Som Maior veio pela primeira vez a nossa igreja, anunciava um dos integrantes antes de mais uma canção: “Enquanto Dalva de Oliveira canta para o mundo, sua irmã canta para Deus!”
Conhecida como “Rouxinol Brasileiro”, mas também chamada de “Rainha da Voz”, Dalva de Oliveira Viveu o apogeu de sua carreira musical, por pelo menos 40 anos. Pela grandeza de seu vulto como figura artística, teve sua vida retratada pela Rede Globo na Minissérie “Dalva & Herivelto” protagonizada pelos atores Fábio Assunção e Adriana Esteves. Quem em sã consciência dirá que Dalva não se tornou uma lenda? Dalva foi a intérprete de ”Brasil” de Cabral, Lacerda e Alves na década de 30; “Véspera de Despedida” versão de Alberto Ribeiro e João de Barro na década de 40;“Há Um Deus” de Lupicínio Rodrigues, na década de 50, junto a Tom Jobim;“Errei, sim” e “Fim de Comédia” de Ataulfo Alves na década de 50; até “Rancho da Praça XI” de Chico Anysio e João Roberto Kelly na década de 60, e por fim, “Bandeira Branca” de Laércio Alves e Max Nunes na década de 70. Uma verdadeira lenda que ficou conhecida como a “Rainha do Rádio”.
Haverá os que já entendem o que estou dizendo e dirão que Dalva de Oliveira é mais que uma lenda! Que a discografia e a história da cantora, e enfim seu filho o cantor Pery Ribeiro, se constituem num grande legado; e até certo ponto, estarão certos os que advogarem contra minha lógica. Entretanto sobrepujo a idéia de um mero legado artístico com a convicção de que o maior legado de uma pessoa é a reprodução do seu caráter e a continuidade de suas posturas por aqueles que se postaram como mais do que fãs ou admiradores, mas como a geração oriunda das propostas reveladas pelo exercício de alguém que não quis ser apenas uma lenda que depois faria muita falta, mas quis ser gerador de um legado perpetuado além da sua existência.
Já a irmã de Dalva de Oliveira (nem posso comprovar este grau de parentesco – digo apenas o que ouvi na minha infância e nunca esqueci), a cantora integrante do grupo evangélico Som Maior, desta nem sequer temos o nome, entretanto, conheço o seu legado. Conheço pessoas que foram edificadas pelo som de sua voz! Posso dizer que eu próprio, me projetei pela área musical, inicialmente alimentado pelas canções deste grupo. O legado dessa cantora, a irmã da lenda, não trata da musicalidade, embora esta não esteja ausente! Trata-se da postura de quem Vê seu fim em Deus; digo fim em dois aspectos elementares:
O fim da finalidade, que diz respeito ao objetivo da nossa atividade, o alvo do exercício de nossa existência, o comprometimento da nossa alma naquilo que fazemos. Isto pode se bastar no evento que produz a lenda, ou o evento manifesta uma intenção que produz legado. Muitos ministros do evangelho atualmente estão atrás das oportunidades. Estes oportunistas sonham em se tornar verdadeiras lendas. Há, todavia, aqueles que quando usam da oportunidade, se calçam na estratégia de alcançar a alma de alguém, a ponto de preferirem que não se esqueçam daquilo que propuseram, ainda que eles próprios sejam esquecidos. Ainda existem os que se esquivam das atribuições legendárias para que invisivelmente possam ter êxito em imprimir nestes tempos um legado visível. Gente assim não corre atrás de oportunidades, mas sim se esforçam para possibilitar estimulantes resultados.
O outro aspecto do fim é o fim da idade. Neste caso devemos sempre ter em mente a nossa humanidade e nossas limitações físicas; ninguém é eterno nesta terra, e devemos em toda nossa proposta caminharmos cientes de que podemos ser fatidicamente interrompidos em nosso exercício de vida, ou mesmo delimitados por parâmetros impostos por uma enfermidade, e até mesmo que pelo desgaste natural da idade se avançando, todos temos que refletir a respeito do fim. Uma das formas mais legítimas das pessoas se perpetuarem, é pelos seus filhos; alguns levam mais que sobrenomes, levam posicionamentos, levam na herança lições de uma vida de exemplos, um verdadeiro legado. Não há nada errado em ser filho de uma lenda, não fosse pelo fato de que sempre os estigmas dos pais perseguirão aos filhos. Julian o filho de John Lennon teria tido um tratamento menos rigoroso da crítica americana se não fosse filho do Beatle. No Brasil, Rafael Braga, que nem canta bem nem canta pior do que muitos ícones consagrados da música, achou melhor desistir da banda de rock que lançou... Afinal é filho de ninguém mais ninguém menos que Roberto Carlos. É o estigma! É o pior legado que uma lenda pode deixar para seus filhos.
Cientes de que certo é o fim, o que nos leva além da nossa morte é o esforço de deixar para a vida, algum valor que represente nosso caráter. Se nos posicionamos a emitir estímulos de um legado para nossos filhos, podemos até ser lendas vivas, mas não podemos esquecer que lendas morrem, entretanto, legados não morrem.
Então se uma pessoa vê seu fim em Deus, sua demanda de ser lenda se finaliza em Deus também; e em Deus mesmo, se inicia o legado de Cristo que se projeta em nós.
Eu particularmente penso que há dois tipos de pessoas que se tornam ministros de Deus. Ambas recebem uma gama de unção e valores de Deus e são verdadeiramente canais de benção para a igreja. Entretanto, um gênero de ministro se entende como uma espécie de celeiro das coisas de Deus, este ministro acaba por se tornar um administrador dessas coisas de Deus, racionando as ministrações conforme lhe convém, até que quando morre, como tudo estava nele, este se torna uma lenda. As gerações o conhecem, mas já não são abençoadas pela lenda.
Outro gênero de ministro, no entanto, não armazena em si as coisas que recebeu de Deus; se entende como canal e se permite esvaziar, se tornando seus alvos enriquecidos com as coisas de Deus. Quando um ministro assim morre, não tem funeral de lendas por que não reteve as coisas de Deus em si; agora, aquelas coisas de Deus que sofreu e liberou, se constituirão no seu legado. As gerações nem o conhecerão, mas viverão sua ministração de benção.
Enfim, o grupo Som Maior já não canta mais... Alguns até já morreram... Dalva de Oliveira também já morreu; eu, contudo estou vivo e percebendo o que aquele ministro disse antes daquela canção começar 40 anos atrás:
Enquanto Dalva de oliveira é uma lenda para o mundo, sua irmã deixa seu legado em Cristo.
Eu entendi pastor Kenny Conley! Eu entendi!!!
Por Pr. E.H.S. Kyniar
Primeira Igreja Batista em Fernandópolis
Arsenal – Ministério da Guerra
Aliança de Ministros 7001

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